Sexta-feira, Novembro 7, 2025
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NO DJANDO por Luís Madaba

Os dias começam frescos, terminam frescos, não importa se é Verão ou Inverno. O stress gerado pelo trabalho, sonhos e desejos não realizados…a frescura do final do dia dissipa-o.

Nos renovamos no calor das nossas casotas outrora cobertas de capim, substituídas por chapas de zinco, fruto da moderna forma de conceber as coisas.

Neste planalto, o coração de Niassa, a manta ou a colcha é sempre nossa companheira, aquece os nossos corpos, espinha e sonhos, sim, sonhamos muito e, é por isso, que nos educamos no djando ou no rondo, nomes de lugares que acomodamos adolescentes na cerimónia de ritos de iniciação, também conhecida como Unhagouma prática que serve para ensinar a resiliência, valores morais e outros saberes para a vida.

O pó fino do fim do dia e sopro gelado da madrugada, sem permissão, deixa suas marcas sobre a pele dos jovens iniciados, também, pinta as paredes das nossas casotas geralmente de cor acastanhado.

É, por força da natureza que aprendemos a combinar as cores, que se reflecte na nossa vestimenta e, desde cedo praticamos a arte. Para provar que somos artistas desde o ventre, activada em volta da fogueira do djando ou do rondo, este último, lugar de iniciação das meninas, esculpíamos o rosto e as cinturas das paredes de nossas palhotas com pó castanho ou quase amarelo, cinzenta, preta ou quase branca de terra escavada nas margens dos rios próximo às zonas residências.

Suaves mãos das nossas mães, antes da vinda das famosas unhas, eram responsáveis por este trabalho, também, eram instrutoras de jovens adolescentes, instruíam-nas a arte de esculpir as casotas, sem necessidade de tintas industrializadas, uma prática que, infelizmente vai sendo esquecida com a cumplicidade sólida de salões de beleza e lojas de cosméticos.

Que menina, nos dias que correm, aceitaria trocar unhas para praticar a arte de esculpir o rosto das casotas com terra?

Não estariam as nossas tradicionais formas de terapia ocupacional, sendo substituídas pela indústria, e a famosa inteligência artificial?

O que faremos com o tempo de sobra, e sem o estímulo à criatividade humana?

Não devíamos manter o básico dos nossos costumes que outrora nos ensinaram a ser resilientes e mais humanos, que entrar sem resistência para uma modernidade que nos adoece?

Foi Fernando Pessoa que nos ensinou que: A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos. Enquanto sentimos os males e as injúrias de Hamlet, príncipe da Dinamarca, não sentimos os nossos – vis porque são nossos e vis porque são vis.

Devíamos transformar os espaços de Unhago como ateliês, pois, há pesquisas que nos revelam a importância do Unhago para uma cidadania mais consciente.

No djando ou no rondo, os nossos meninos e nossas meninas aprendem aquilo que o mundo moderno não pode ensinar, por força dessa crença, reforçada por pesquisas de académicos, não seria justo pedir ao moderno que se adapte aos nossos costumes, e assim, se preserve a nossa identidade?

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