Cães de Raça
Por Francisco Fernando Camilo
“Azagaia” é nome artístico do rapper moçambicano Edson da Luz, falecido no ano 2023. Sua carreira artística foi marcada por obras musicais, boa parte focadas na política moçambicana de forma particular, mas com muita influência nos países da lusofonia.
Nos seus temas musicais, Azagaia abordava temáticas ligadas à corrupção, justiça social, desigualdades, pobreza entre outras matérias de intervenção social. Visto como “ousado” para alguns, e para outros como “audaz”, Azagaia era consciente suficiente para perceber que, os seus conteúdos musicais eram sensíveis para os políticos (o Sistema) e aspectos de direitos fundamentais de personalidade, razão pela qual, considerava o uso da metáfora e ironia, facto que, tornava-as, relativamente, inacessíveis.
Na 1ª edição da revista, dissecaremos a música “Cães de Raça”, um dos seus sucessos musicais do álbum Cubaliwa, segunda obra discográfica da sua autoria, onde usa metaforicamente a palavra destacada para representar as pessoas que se acham superiores por causa do dinheiro, poder político, cor da pele ou por terem vantagens que pessoas comuns não tem na sociedade, e que desprezam os outros (os sem raça), ou seja, os pobres, os oprimidos e marginalizados.
Na primeira estrofe, Azagaia inicia com a voz dos indivíduos de cor mista (mulatos), geralmente, resultados biológicos das relações entre os colonizadores (pai branco) e colonizadas (mãe preta).
O mulato sente-se sem nação e sem lugar, porque diante dos indivíduos de cor preta, o mulato não é original, essa visão também é partilhada pelos indivíduos de raça branca, tornando-lhes, desse modo, indivíduos de identidade fragmentada e com crises de pertença.
Por sua vez, dá voz ao branco, o privilegiado, o que representa a classe dominante, detentores do poder económico, que continua colonizando disfarçado de bancos, empresas e influência política.
Dá continuidade denunciando, ironicamente, do privilégio que ainda tem sido dado, apesar de reconhecer que é visto como opressor, pois ainda controlam a língua, o capital e meios de produção, tudo isso, pelo peso histórico do legado colonial.
Por fim, Azagaia surpreende apresentando que os complexos raciais vão além das cores, também são influenciados pelos factores culturais e religiosos.
Para além das raças apresentadas ainda existem os monhés (termo popular usado para referir a comunidade indo-muçulmana, que em grosso modo, realiza actividadecomercial e m Moçambique), usando sua voz reafirma a barreira que existe entre os monhés e as outras raças, dando ênfase no isolamento cultural voluntário para preservar a identidade cultural e religião, como também, denuncia as relações laborais desiguais, onde o monhé continua, progressivamente, enriquecendo com o negócio e o africano como subordinado.
Todavia, Azagaia trás consigo uma série de vozes de cada raça onde cada uma apresenta a base com que são suportados os seus complexos raciais e pela mesma via critica, ironicamente, o tribalismo, elitismo e ao racismo estrutural.
O verdadeiro inimigo não é a cor da pele, mas o sistema que cria desigualdades, exclusão e o ódio entre os povos.
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