Desabafos de um morto arrependido (Celebrando Mukwarrura)
Registe-se junto ao cartório: nada de flores, nem mensagens contendo parágrafos meticulosos: deixa um vazio irreparável; será para sempre um exemplo a seguir; iremos dar continuidade às suas obras…! Qual obra é que é? Qual exemplo é que é? Qual vazio é que é?
Deixai, por favor, a sua alma transitar em paz, com todos aqueles aditivos macabros que em vida sempre lho atribuíram: ambicioso; coração grande; irresponsável; diabo em pessoa, em fim! Isso mesmo! Os cadavéricos ventos deste século, sepultaram viventes de tanto abismo, quando melhor era emprestar-lhes um antídoto, que no olhar dos bárbaros, é um incómodo.
As suas façanhas, alegrias e arrojadas mangas, foram sempre vistas em desdém nos holofotes daqueles manipuladores de mentes, mesmo que mal conheçam este ser da semelhança de Deus, pois, nem uma milinga recompensa a uma dádiva de Deus.
O vivente, que sempre se moldou nas multicolores entranhas da sua identidade, regou-se de tanta dificuldade e trepou os muros da vida, em viagens desalmadas; furou paredes traidoras de adobe; rasgou ventres e sequestrou noites e dias tentando lavrar a sua mãozinha talento que o divino lho emprestara.
Os mundanos se esqueceram de que, Deus, deu um propósito a cada um nesse mundo; ignoraram o princípio de que, onde um termina, começa o outro.
Torturaram cada pedaço de passo que o vivente dava, tentando trazer alegria aos seus sequazes. Fazia coisas que poucos faziam; alegrava a todos até aos vientes. Ele era solução no desespero; era mágico sem magia. Até aí, conquistava a satisfação dos mais interessados e, aos bárbaros, roía os seus tímpanos.
E como o destino não constrói pontes e pontões entre pedregulhos, é aos bárbaros que lhos cai a consulta sobre o perfil daquele talento á montante, vindo do adjuzante.
– Onde, aí? Não se passa nada. É apenas lata; não serve para nada. É víbora em destilação. Esfregou o bárbaro.
Suspiro! É sonho rompido; futuro de filhos cortado por alheios; maldade em acção.
Morreu assim o pobrezinho vivente, com rabo cortado por um bárbaro que tão mal lho conhece. Mas, porque Deus não é padrasto, é ao bárbaro que lhe é confiada a missão de lavrar a mensagem fúnebre.
Eis a mensagem nunca ouvida; linda de ouvir; aquela que acorda aos mortos; todos condimentos em dia. Prontos, são coisas de satanás ou de fiéi s pos suídos . Em introspecção, questiono-me:
– Mas porquê mastigar ossos do seu próximo? Mas porquê ciladas e vespas em seus caminhos enquanto vivo? Mas porquê manipular mentes contra um ser da semelhança de Deus? Perguntas que nunca se deixam calar.
Repito…
– Não quero flores, mensagens contendo parágrafos meticulosos: deixa um vazio irreparável; será para sempre um exemplo por seguir; iremos dar continuidade das suas obras. Qual obra qual é que é? Qual exemplo qual é que é? Qual vazio qual é que é?
– Deixai, por favor, a sua alma transitar em paz, com todos esses atributos macabros que em vida sempre lho emprestaram: ambicioso; coração big; irresponsável; diabo em pessoa, em fim! – Como esse é o desejo dos mundanos, peço para que leiam a minha mensagem fúnebre agora, antes da minha morte! Quero saber que vazio irreparável deixarei na terra. Desdenhou o vivente!
– Espero que apaguem todas mensagens gravadas nesses computadores, pois, descobri que a minha será copyandpast da mensagem do falecido anónimo que morreu num pretérito dia, vítima de envenenamento encomendado.
– Expirou o vivente!
O CIDADÃO QUE NUNCA LHO FALTAREI COM O RESPEITO
Ambale Catolo, licenciado em biologia, mas vagabundeando há anos em ruelas enferrujadas de Namacula, decidira firmar-se em trabalhos voluntários em apoio às comunidades a volta do cemitério local. Ambale reunira outros licenciados da banda e fundaram Etxipani.
Decidiram enterrar os mortos, enquanto a sorte sortuda não -lhes intime. São sócios das mesmices da zona: comem sadaka juntos, jogam a bola juntos, por vezes, até, vadiam juntos nas margens de Muchenga tentando empurrar a vida. Quando morreu o meu amigo, espalhamos preocupação com vista abertura do sepulcro e o enterro do finado.
Pelo tanto calor que fermenta os nossos corpos nesses dias em Lichinga, gritou do outro lado MbwanaMbumba, nduna do Akwilambo. Dissera palavras de solução: AmbaleCatolo tem uma equipa de futebol sam’mawani com quem abre covas em cemitérios para sepultura dos mortos. Ele tem Etxipani. Eles o fazem com benevolência. Recorremos então ao Etxipani de Ambale para suavizar a urna do meu amigo que devia repousar em paz.
Assim o fizeram com ternura e sossegamos aalma do finado. Enquanto abriam o nihiye, ouvia conversas soltas, dizendo que, aquele Etxipani quando malagradecido, altera as medidas do nihiye em relação ao randa ou esanda. Eles não exigem água de Unango para contornar as almas. Ela é necessária. Dizem, também, por vezes retardam o enchimento do túmulo.
Os coveiros são por si um mistério. São únicos com acesso livre ao nihiye; eles mantêm o contacto direito com o malogrado. Eles têm a gratidão de tocarem em randa ou esanda sem critérios. São eles que perfumam pela última vez o randa. Escondem as roupas preferidas do finado dentro do randa ou esanda. Só eles têm o último segredo do t5r6túmulo.
Venero-lhes por fazerem tudo de pé descalço. Abrem, perfuram o sepulcro; recebem, guardam, tapam tudo de pé descalço. Eles são um pedaço da história de Namacula. carregam memórias de cada sepultado. Eles são um baú ao fundo ou um segredo no fundo do baú.
Estamos sentados na sombra feita de lona ACNUR. Estamos a comer sadaka- arroz com feijão e cabeças de carapau. Sentamos três – três. Não queremos miúdos no nosso prato. Aqui, cada um murmura ao sabor da comida: NUNCA FALTAREI COM O RESPEITO AO COVEIRO.
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