Meu Destino- Lago Niassa 

Por: Celestino Felício das Dores Tomás, Turismólogo, em exercício na Direcção Provincial da Cultura e Turismo do Niassa.

Desde os tempos imemoriais, o Lago Niassa afirmou-se como referência icônica do turismo para a região Austral de África. Os relatos de David Livingston, por exemplo, já o distinguiam como “Lago das Estrelas”, os de Valdez Santos, o tinham como “o Desconhecido Niassa” e mais tarde, Jorge Ferrão o considerou de “caixa de surpresas”, numa altura que Conceição Matende o designou de “joia ambiental e fonte de sustento para as populações” (https://www.dw.com).

A aparente convergência em percepções, reflecte-se também nos achados escritos de Rafael Langa (www.mozavibe.co.mz) que o equiparou com “um tesouro natural”, mostrando inequivocamente o o inestimável valor turístico assente neste lago e que adquire ênfase para quem o tem do lado moçambicano, o qual abrange os Distritos do Lago e Lichinga na Província de Niassa.

No vasto leque de escritos disponíveis, inexiste um que questione a limpidez da água do Lago Niassa para banho de praia, nem as propriedades curativas da areia, muito menos a sua textura no relaxamento, melhoramento da circulação sanguínea ou simples tonificação dos músculos. Curiosamente, todas as fontes consentem a magnificência deste lago, exuberante em espécies aquáticas, grande parte delas exclusivas deste habitat e outras completamente novas para a ciência.

Fonte: Ntendele Lodge, Meponda

É, ao certo, um lago de origem tectônica, inserido na falha geológica conhecida por Rift Vale, detendo 31 mil km2, 6 400 dos quais pertencentes a Moçambique que absorve uma linha de costa com cerca de 560 km na orientação Norte-Sul. Ainda assim, o lugar deste lago no universo dos lagos do mundo parece difuso, eventualmente pela raridade de abordagens que compulsam a superfície, volume e profundidade.

Vale referenciar que, no ranking mundial, o Lago Niassa posiciona-se em 9º lugar com um volume de 8 400 km3, que o coloca em 5º lugar, depois de Cáspio que detém 78 200 km3, Baikal com 23 600 km3, Tanganyika com 18 900 km3 e Superior com 12 100 km3 e uma profundidade de 706 metros, que o consagra em 4º lugar depois de Baikal com 1.637 m, Tanganyika com 1.470 m e Cáspio que detém 1.025 m (Wikipédia, www.pt.wikipedia.org).    

No conjunto dos lagos africanos, Niassa é o 3º maior lago depois dos Lagos Victoria e Tanganyika, superado em volume apenas com Tanganyika que também supera os dois em termos de abrangência geográfica, por abarcar quatro nações (R. D. Congo, Tanzânia, Zâmbia e Burundi), diferentemente do Lago Victoria que abrange Tanzânia, Quênia e Uganda, a semelhança do Lago Niassa partilhado por Moçambique, Malawi e Tanzânia.

O Lago Niassa é bonito, lindo e limpo, mas também rico em biodiversidade aquática, como descrito em numerosas fontes. Porém, a sua singularidade para fins de turismo reside na combinação criteriosa da paisagem florestal com a lacustre que vai desvanecendo no olhar de cada visitante, enquanto o condutor desbrava a via, sobre paisagem pitoresca e invulgar perceptível nos últimos 6 km que cedem as Vilas de Meponda e Metangula, sendo este último destino avaliada por Jorge Ferrão como provedor de uma das mais agradáveis viagens no interior da província.

A Vila de Metangula, alcançável por via rodoviária, num percurso de 107 km contados a partir da Cidade de Lichinga, faz parte de um dos destinos com maior concentração de infra-estruturas de apoio ao turismo, eventualmente o mais pronto para o turismo dentro das fronteiras moçambicanas. Longe de ser a Costa Rica, nem a Nova Zelândia, Metangula revela-se como um destino com forte tendência de turismo responsável, socialmente aceitável e ecologicamente sustentável, visto na base das actuais projeções inovadoras introduzidas nas unidades hoteleiras com apoio do sector público que zela pelo turismo.

A quem diga que visitar Niassa sem apreciar o Lago Niassa é uma viagem incompleta e que não compensa, mesmo após uma escala ao Local Histórico de Matchedje ou ao monumento da Rainha Achivanjila, que distam a sensivelmente 250 km e 145 km da Cidade de Lichinga, respectivamente.

Como se pode perceber, não há escritor, nem principiante que tenha descrito o Lago Niassa, para cansar a mente do leitor. Tudo quanto foi possível relatar sobre este destino, comove a reler e, no olhar de leigos, parece tratar-se de único lugar no mundo, onde o homem ganha inspiração para escrever com a mais elevada criatividade humana.

Lago Niassa, proporciona uma vista excepcional, quase inalcançável, que gera um pôr-do-sol espetacular, o qual somente não é captado por aqueles que subestimam o valor da imagem, vezes omisso, mas que se vislumbra além da própria fotografia.

Fonte: Ntendele Lodge, Meponda

É, sim, a paisagem que mais encanta os visitantes. Todavia, a tradição local está entre as melhores justificativas imperdíveis numa visita ao Lago Niassa.  Entre os cenários que colam a mente do visitante, consta a partilha do tempo à beira do lago, em grupos de famílias e amigos, que apreciam o ambiente envolvente, repleto ora de pescadores, ora de mulheres e crianças lavando a louça em áreas distintas das reservadas para banho, segregadas por uma linha imaginária que gera privacidade baseada no sexo. Os agrupamentos de homens e mulheres nas margens do Lago Niassa, parece mais uma condição provida pela própria natureza, em lugares localmente denominados por Doko, distinguíveis por uma regra repulsiva que age no invisível, em benefício a privacidade.

Há também locais de interesse histórico imperdíveis em visitas agendadas fora ou dentro, quer dos festivas de danças tradicionais de N´ganda e Chiwoda que ocorrem anualmente em todas as aldeias entre os meses de Junho à Setembro, quer da época do Festival das Estrelas do Lago, oferecido pelo Executivo Provincial no mês de Outubro, com possíveis alterações para Novembro, dentro da bioluminescência que marcou a água durante a expedição de descoberta realizada por David Livingstone, cujo propósito é estimular o senso de comunidade praticante e beneficiária do turismo, em apoio a economia local.  

Basta uma vista paisagística sobre o Lago Niassa, para encerar a decisão de visita a outras áreas geográficas e dar início a uma busca minuciosa de acomodação na Residencial Mira Lago, Micala Lodge, Jasmine Bay Hotel & Spa ou na Massauko Service, com ou sem auxílio da Ushaka Travel, sediada na Cidade de Lichinga.

Por: Celestino Felício das Dores Tomás, Turismólogo, em exercício na Direcção Provincial da Cultura e Turismo do Niassa.