A frase provocadora de Montesquieu “Não existe um animal irracional, somente universos paralelos ou com leis diferentes” deveria estar estampada nas salas de aula, nos gabinetes políticos e nas conferências ambientais. Ela nos convida a abandonar o olhar arrogante que insiste em medir todas as formas de vida pela régua humana.
A racionalidade, como bem apontam Darwin, Morin e Arendt, não é um monopólio da espécie humana. O canto das baleias, a dança dos pássaros-do-paraíso, o altruísmo dos suricatos tudo isso revela lógicas adaptativas refinadas, moldadas por milhões de anos de evolução.
Não são irracionais. São diferentes. E essa diferença é o que torna o mundo vivo, complexo e interdependente. O problema é que ainda insistimos em julgar o comportamento animal (e até o cultural humano) com base em padrões universais que ignoram o contexto.
Montesquieu já dizia que “as leis devem estar de acordo com o carácter das pessoas para quem são feitas.” Isso vale para sociedades humanas, mas também para ecossistemas naturais. Cada sistema seja uma floresta tropical ou uma colónia de abelhas opera com suas próprias regras internas. E desrespeitar essas regras é desestabilizar o equilíbrio do planeta. Precisamos urgentemente de uma ética ambiental que reconheça essa pluralidade.
Não se trata apenas de proteger espécies ameaçadas, mas de respeitar as lógicas que sustentam a vida. Como educador e pesquisador, vejo diariamente o impacto de uma visão antropocêntrica que marginaliza saberes locais, práticas sustentáveis e formas de vida não humanas. Está na hora de mudar.
De escutar os cantos, os silêncios e os ritmos dos outros “universos paralelos” que coexistem connosco. Porque, como nos lembra Montesquieu, o irracional talvez. esteja em nossa incapacidade de reconhecer a racionalidade do outro.
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